A evolução da indústria de máquinas e
equipamentos no Brasil: Dedini e Romi, entre 1920 e 1960
O objetivo do artigo é examinar a evolução do
mercado da indústria de máquinas e equipamentos no Brasil e em São Paulo, entre 1920 e
1960, tendo como objeto de estudo duas empresas importantes para o fortalecimento dessa
indústria no país, a Dedini e a Romi. A escolha
dessas empresas deve-se à existência de estudos
específicos e acervos históricos com documentos econômico-financeiros. Serão destacadas as
semelhanças e as diferenças no desempenho
dessas duas empresas no contexto da evolução do mercado da indústria de máquinas e
equipamentos. Essas surgiram como pequenas
oficinas nas primeiras décadas do século XX e
evoluíram com o mercado específico em que
atuavam, com grandes mudanças nas décadas
de 1920 e 1930, e se fortaleceram no setor após a
década de 1940. Na década de 1960, eram as principais empresas da indústria em que atuavam.
A industrialização constituiu, historicamente, o fator mais
poderoso no processo de aceleração do crescimento econômico. O setor industrial exerceu impacto dinâmico sobre
outros setores da economia e sobre todo o ambiente social
e institucional.
A indústria de máquinas e equipamentos é o setor-chave no processo de industrialização e desenvolvimento econômico de um país, fornecendo máquinas e equipamentos
que transformam as condições de produção da agricultura
e da indústria. Além disso, essa indústria é importante para
o desenvolvimento econômico porque incorpora novos conhecimentos tecnológicos ao processo produtivo, por meio
da introdução de novos bens de capital que elevam a produtividade e a eficiência do sistema econômico.
A indústria mecânica possui característica especial, uma
vez que seu desenvolvimento dá apoio à expansão de outros
setores industriais, ou seja, seus produtos são destinados a
aparelhar os outros setores por meio da oferta de máquinas
e equipamentos. A forma mais comum de aperfeiçoamento técnico no processo de industrialização dá-se mediante
mudanças tecnológicas, principalmente com o desenvolvimento de máquinas para construir máquinas. Portanto, o
desenvolvimento da indústria mecânica é fundamental no
processo de industrialização.
As origens de Mário Dedini e
Américo Emílio Romi e suas empresas
Nascidos na última década do século XIX, Mário Dedini (1893-1970) e Américo Emílio Romi (1895-1959) foram contemporâneos. O primeiro é da cidade de Lendinara, situa da na província de Rovigo, próxima de Pádua e de Ferrara, no Norte da Itália. O segundo nasceu no Brasil, na cidade de São José do Rio Pardo (Estado de São Paulo), filho de imigrantes italianos, também do Norte da Itália. Ambas as famílias vieram para o Brasil por causa dos problemas econômicos e da instabilidade política da Europa, no final do século XIX e início do século XX, e pela possibilidade de progresso econômico nas Américas. Ambos tinham alguma relação com as atividades econômicas agrícolas, mas também tinham conhecimentos da mecânica. Mário Dedini nasceu em uma região produtora de açúcar de beterraba na Itália. Mário estudou desenho mecânico na Escola Técnica de Lendinara e trabalhou na usina de açúcar de beterraba da cidade, uma das maiores daquele país. Desde muito jovem, Mário Dedini conhecia as ramificações possíveis do açúcar com a mecânica, na manutenção de equipamentos agrícolas para o setor. Sua vinda para o Brasil foi resultado da ligação com a atividade na usina de açúcar. O convite de um amigo que prestava serviços para a produção açucareira paulista motivou o jovem Mário, que, em 1914, saiu do porto de Gênova e chegou ao porto de Santos e aí se dirigiu para a fazenda Amália, na cidade de Santa Rosa de Viterbo, no interior de São Paulo. Dois anos antes da chegada de Mário Dedini ao Brasil, em 1912, Américo Emílio Romi e sua família, que veio para o país motivado pelo trabalho nas fazendas de café do interior do Estado de São Paulo, retornam à Itália. O pai de Emílio Romi tinha conhecimentos de mecânica e trabalhou na construção da ponte metálica sobre o Rio Pardo, com Euclides da Cunha, em 1896. Em 1900, a família mudou-se para Casa Branca, e seu pai conseguiu empregar-se como maquinista da Cia. Mogiana de Estrada de Ferro, permanecendo no emprego até 1906. Depois desse período, a família acumulou algum dinheiro e resolveu voltar à Itália para proporcionar educação aos seus filhos. Na Itália, em 1912, Américo Emílio estudou Eletromecânica começou sua atividade profissional como mecânico na fábrica da Tecnomazio Brown-Boveri, em Milão. A partir de 1915, Romi serviu na Primeira Guerra Mundial, consertando caminhões e veículos militares para a Itália, revelando suas habilidades mecânicas. Romi voltaria ao Brasil, em 1923, para trabalhar como mecânico em um revendedor Ford, em Santo Amaro.
Mário Dedini, ao chegar ao Brasil, em 1914, foi encaminhado da fazenda Amália à usina Santa Bárbara. Mário Dedini auxiliou os engenheiros e os técnicos franceses na montagem da usina, com equipamentos importados, em sua maior parte, da França. Como Mário já conhecia a técnica da produção de açúcar de beterraba, sua experiência facilitou o aprendizado da técnica de fabricação de açúcar de cana. Em 1915, Mário Dedini tornou-se o primeiro gerente não engenheiro da usina. Em 1924, Emílio Romi mudou-se com a família para a Vila Americana, que pertencia ao município de Piracicaba, em busca de novas oportunidades de trabalho. Com suas habilidades em mecânica, encontrou emprego em uma oficina Chevrolet, onde adquiriu grande número de clientes e passou a ganhar o maior salário de mecânico da região. Entre 1927 e 1929, Romi mudou-se novamente, agora para Santa Bárbara do Oeste.
Como é possível perceber, Mário Dedini e Américo Emílio Romi percorreram a mesma região geográfica do interior paulista, apesar de momentos diferentes. Uma hipótese advém do fato de que as fazendas agrícolas (de café, cana-de-açúcar, por exemplo) da região Nordeste e Central do Estado de São Paulo atraíram imigrantes que possuíam outras habilidades além do trabalho na lavoura. Essa atração pode ser explicada pela existência de estradas de ferro na região e das fazendas com engenho e café, que requeriam manutenção para seus equipamentos (locomotivas, vagões, máquinas de beneficiamento agrícola, caldeiras e moendas de cana-de-açúcar, carroças, automóveis e outros implementos agrícolas).
Mário Dedini e Américo Emílio Romi iniciaram os
próprios negócios com pequenas oficinas. O primeiro, uma
oficina de carpintaria e ferraria para a fabricação e o conserto
de veículos (troles, carroças, carroções, charretes) e utensílios
agrícolas (bicos de grades, bicos de arados para tração animal,
e outros tipos de arados), em 1920, na cidade de Piracicaba.
Já o segundo iniciou suas atividades na cidade de Santa
Bárbara, em 1929, com uma oficina de automóveis, na qual
produzia peças e que passou a receber encomendas de peças
de equipamentos agrícolas.
Em 1920, Mário Dedini deixaria suas atividades formais
na usina Santa Bárbara para dedicar-se à sua oficina, mas
continuou dando assistência técnica à usina por vários anos.
Assim, em 1922 foi registrada a firma Mário Dedini & Irmão,
conhecida como Oficina Irmãos Dedini, com capital de dez
contos de réis. Segundo Barjas Negri, a localização da oficina,
na Vila Rezende, em Piracicaba, foi essencial para o desenvolvimento inicial da empresa porque ficava em um corredor de tráfego obrigatório da região. Assim, a firma recebia
grande demanda por serviços de reparação de veículos, e a
localização estratégica facilitava o atendimento de pedidos
de reparação ou fabricação de utensílios agrícolas. A inexistência de oficinas que atendessem às necessidades de reparo
de peças para os vários engenhos de açúcar e fábricas de
aguardente da região foi um fator essencial para o desenvolvimento da Dedini.
O conhecimento técnico adquirido por Mário Dedini no trabalho em usinas para a produção de açúcar foi fundamental para o atendimento das necessidades de reparo para o setor ligado ao processamento da cana-de-açúcar. Assim, o início da produção de máquinas e equipamentos no interior de São Paulo esteve ligado ao desenvolvimento econômico local ou regional. O desenvolvimento econômico de Piracicaba, no início do século XX, local de instalação da oficina Dedini, é um exemplo dessa ligação entre a agricultura local e o crescimento da indústria. As atividades agroindustriais locais, ligadas ao cultivo e ao processamento da cana-de-açúcar, viabilizaram o aparecimento de empresas para atender à demanda do setor. As primeiras usinas possuíam as próprias oficinas para a manutenção do equipamento e do maquinário, mas o crescimento e o desenvolvimento da produção açucareira resultaram em oportunidades de novos empreendimentos destinados à manutenção das empresas de processamento da cana-de- -açúcar, possibilitando condições para o aparecimento de oficinas mecânicas especializadas. No final dos anos 1920, a Oficina Dedini passou por uma expansão significativa, que constituiu as pré-condições para a formação de uma empresa de máquinas e equipamentos no interior do Estado de São Paulo. A oficina mecânica de reparos de automóveis transformou-se em uma pequena indústria, que tinha como atividade o conserto, a reparação e a construção de peças simples para pequenos engenhos de açúcar. Assim, em 1926, a empresa, na época denominada M. Dedini, instalou uma seção mecânica e uma pequena fundição de ferro, com a aquisição de máquinas de segunda mão. Entre 1926 e 1928, a empresa iniciou a fabricação de conjuntos de moendas de cana, além de eixos, engrenagens, luvas, camisas, mancais, facas, rodetes, entre outros. As moendas eram relativamente simples, constituindo-se em três cilindros horizontais e outras peças de ferro fundido, em sua maior parte acionados por motores elétricos de baixa potência. O desenho mecânico e o processo de fabricação basearam-se na experiência de Mário Dedini com máquinas para o setor. Assim, no final dos anos 1920, a empresa já havia passado da fase de reforma de peças para a fabricação de máquinas para o setor açucareiro.
No final do ano de 1929, Romi iniciou o próprio negócio com um capital de apenas dois contos de réis, emprestado por um amigo. Nasceu a Garage Santa Bárbara de Emílio Romi, firma de propriedade individual, com apenas dois operários em uma área de duzentos e cinquenta metros quadrados. Logo depois da fundação, antevendo os efeitos da Crise de 1929 sobre as importações, Emílio Romi comprou uma grande quantidade de peças para automóveis, tornando-se a maior oficina mecânica da região. Apesar dos efeitos da Crise de 1929, ao longo da década de 1930, tanto a Dedini como a Romi tiveram expansão significativa, resultando em mudanças importantes no processo de produção e nos produtos produzidos. Em 1929, além de consertar automóveis, a empresa de Emílio Romi reparava arados e semeadeiras estrangeiras, produzindo peças para esses produtos. Em 1932, Romi passou de oficina de reparos para a fabricação de máquinas agrícolas. No final de 1933 e início de 1934, os jornais de Santa Bárbara (Cidade de Santa Bárbara e O Bandeirante) noticiaram a inauguração da seção de mecânica e fundição das Oficinas Romi anexa à garagem e à oficina de marcenaria já existente. A fundição era de grande porte e moderna para a cidade no período e estava aparelhada para fabricar quaisquer peças de máquinas exigidas pela indústria local e das cidades vizinhas. A fundição era composta de duas fornalhas, uma para a fundição de ferro, e outra, de bronze, com capacidade de produção de 150 toneladas de peças fundidas por mês. Estava resolvido o problema da fundição de peças de ferro e bronze. Em 1936, Romi comprou seu primeiro torno mecânico, iniciando o aparelhamento do seu maquinário com a expansão do mercado nos anos 1930.
O conhecimento técnico adquirido por Mário Dedini no trabalho em usinas para a produção de açúcar foi fundamental para o atendimento das necessidades de reparo para o setor ligado ao processamento da cana-de-açúcar. Assim, o início da produção de máquinas e equipamentos no interior de São Paulo esteve ligado ao desenvolvimento econômico local ou regional. O desenvolvimento econômico de Piracicaba, no início do século XX, local de instalação da oficina Dedini, é um exemplo dessa ligação entre a agricultura local e o crescimento da indústria. As atividades agroindustriais locais, ligadas ao cultivo e ao processamento da cana-de-açúcar, viabilizaram o aparecimento de empresas para atender à demanda do setor. As primeiras usinas possuíam as próprias oficinas para a manutenção do equipamento e do maquinário, mas o crescimento e o desenvolvimento da produção açucareira resultaram em oportunidades de novos empreendimentos destinados à manutenção das empresas de processamento da cana-de- -açúcar, possibilitando condições para o aparecimento de oficinas mecânicas especializadas. No final dos anos 1920, a Oficina Dedini passou por uma expansão significativa, que constituiu as pré-condições para a formação de uma empresa de máquinas e equipamentos no interior do Estado de São Paulo. A oficina mecânica de reparos de automóveis transformou-se em uma pequena indústria, que tinha como atividade o conserto, a reparação e a construção de peças simples para pequenos engenhos de açúcar. Assim, em 1926, a empresa, na época denominada M. Dedini, instalou uma seção mecânica e uma pequena fundição de ferro, com a aquisição de máquinas de segunda mão. Entre 1926 e 1928, a empresa iniciou a fabricação de conjuntos de moendas de cana, além de eixos, engrenagens, luvas, camisas, mancais, facas, rodetes, entre outros. As moendas eram relativamente simples, constituindo-se em três cilindros horizontais e outras peças de ferro fundido, em sua maior parte acionados por motores elétricos de baixa potência. O desenho mecânico e o processo de fabricação basearam-se na experiência de Mário Dedini com máquinas para o setor. Assim, no final dos anos 1920, a empresa já havia passado da fase de reforma de peças para a fabricação de máquinas para o setor açucareiro.
No final do ano de 1929, Romi iniciou o próprio negócio com um capital de apenas dois contos de réis, emprestado por um amigo. Nasceu a Garage Santa Bárbara de Emílio Romi, firma de propriedade individual, com apenas dois operários em uma área de duzentos e cinquenta metros quadrados. Logo depois da fundação, antevendo os efeitos da Crise de 1929 sobre as importações, Emílio Romi comprou uma grande quantidade de peças para automóveis, tornando-se a maior oficina mecânica da região. Apesar dos efeitos da Crise de 1929, ao longo da década de 1930, tanto a Dedini como a Romi tiveram expansão significativa, resultando em mudanças importantes no processo de produção e nos produtos produzidos. Em 1929, além de consertar automóveis, a empresa de Emílio Romi reparava arados e semeadeiras estrangeiras, produzindo peças para esses produtos. Em 1932, Romi passou de oficina de reparos para a fabricação de máquinas agrícolas. No final de 1933 e início de 1934, os jornais de Santa Bárbara (Cidade de Santa Bárbara e O Bandeirante) noticiaram a inauguração da seção de mecânica e fundição das Oficinas Romi anexa à garagem e à oficina de marcenaria já existente. A fundição era de grande porte e moderna para a cidade no período e estava aparelhada para fabricar quaisquer peças de máquinas exigidas pela indústria local e das cidades vizinhas. A fundição era composta de duas fornalhas, uma para a fundição de ferro, e outra, de bronze, com capacidade de produção de 150 toneladas de peças fundidas por mês. Estava resolvido o problema da fundição de peças de ferro e bronze. Em 1936, Romi comprou seu primeiro torno mecânico, iniciando o aparelhamento do seu maquinário com a expansão do mercado nos anos 1930.
Em 1937, a Fábrica de Máquinas Agrícolas Santa Bárbara
era uma das unidades industriais mais importantes do município de Santa Bárbara. A empresa possuía setenta e
cinco operários em comparação aos quatro mecânicos que
iniciaram em 1929, e sua produção anual de máquinas era de
quase seiscentos contos de réis (Santa Bárbara, 1937). Em 1938,
a firma Américo Emílio Romi tornou-se sociedade limitada,
denominando-se Máquinas Agrícolas Romi Ltda., com um
capital de trezentos contos de réis. Em 1939, a empresa era
a maior fábrica de máquinas agrícolas do Brasil, possuindo
prensas de grande tonelagem para a produção dos equipamentos. Seus produtos eram fabricados com métodos modernos, semelhantes às grandes organizações industriais dos
Estados Unidos e da Europa. Os produtos eram vendidos aos
mais modernos agricultores do país e exportados para países
do continente americano.
A década de 1930 foi muito favorável para as atividades
econômicas da Dedini. Nessa época, houve um processo de
expansão e transformação na empresa, com aquisição de
maior parcela do mercado, novas linhas de produtos e maior
escala na produção. Apesar de a empresa ter se transformado de uma simples oficina de reparos, no início dos anos
1920, em uma empresa de produção de equipamentos, em
meados dos anos 1920, sua estrutura de produção ainda era
modesta no início da década de 1930. As máquinas utilizadas pela empresa eram, em sua maioria, de pequeno porte
e usadas. No início dos anos 1930, a empresa era composta
de uma carpintaria, uma ferraria, uma seção de mecânica,
modelagem, caldeiraria e uma fundição de ferro e bronze.
A Crise de 1929 tornou os produtos da Dedini, geralmente moendas para cana-de-açúcar, mais baratos do que os importados.Ao longo da década de 1930, as usinas passaram a
exigir máquinas e aparelhos de maior porte para a extração
de caldo de cana. Os efeitos da Crise de 1929 na economia
açucareira paulista não foram tão intensos como em outros
Estados. Com a crise do café, os agricultores passaram a diversificar a produção agrícola, beneficiando o setor de cana-de-açúcar. Ao longo da década de 1930, houve crescimento
relativo da produção de açúcar para o Estado de São Paulo
(de uma participação média do Estado na produção total
de açúcar do país de 8,7% nas safras de 1925/1930 para uma
participação de 19,1% nas safras de 1935/1940), tornando-se
esse o segundo maior produtor do país, atrás apenas de
Pernambuco.
Esse aumento da participação de São Paulo na produção de açúcar do país é explicado pela elevação do número
de usinas no Estado, entre 1929 e 1940, isto é, de 20 para 34. A
partir de 1935/1936, o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA)
apoiou a modernização e a ampliação das instalações de
muitas usinas paulistas. Assim, a participação de engenhos
na produção de açúcar de São Paulo caiu de 50% em 1930 para
25% em 1940. A cidade de Piracicaba era responsável por 20%
da produção de açúcar do Estado, em 1937. Essa produção
era realizada por seis grandes usinas e 265 engenhos. Esse
foi um mercado cativo para a empresa de Mário Dedini, que
atendia o segmento de máquinas e equipamentos tanto de
engenhos como de usinas.
Na década de 1940, as estratégias de desenvolvimento da Dedini e da Romi tomaram rumos diferentes. Durante a Segunda Guerra Mundial, com a interrupção das
importações, a Romi decidiu especializar a sua produção
e produzir um novo produto, o torno. A Dedini notou a
necessidade de complementar os produtos que produzia
para as usinas e aprofundou o processo de diversificação
de seus produtos, fundando novas firmas para a produção
de máquinas e equipamentos para o setor alcooleiro e máquinas especializadas para o setor açucareiro.
A Romi iniciou a produção de tornos mecânicos em
1941. A produção de tornos mecânicos foi intensa, e já em
1943 a firma havia produzido mil unidades. A empresa adotou a estratégia de investir no setor de tornos mecânicos e abandonou a produção de máquinas agrícolas, evitando,
assim, uma diversificação prematura. Para reforçar e manter a especialização, a empresa iniciou a exportação desse
produto para a América Latina. Em 1946, a Romi exportava
em média 40 tornos por mês para a Argentina, atingindo
grande participação nesse mercado.
Em 1948, com o auxílio do engenheiro André Toselo, a
Romi iniciou a produção do primeiro trator nacional, denominado Toro, baseado no modelo Allis-Chalmers triciclo.
Esse trator era mais pesado e mais potente do que seu concorrente direto, tendo um preço mais elevado do que o do
modelo da Ford. O preço do primeiro trator nacional inviabilizou seu projeto, e a Romi manteve-se afastada do mercado
de veículos automotores até 1954, quando a empresa adquiriu os direitos de fabricar o automóvel Isetta da Iso-Motor,
de Milão, Itália. O Romi-Isetta, primeiro automóvel nacional
de dois lugares, com apenas 30% das peças importadas, foi
fabricado até 1959, mas o projeto foi encerrado pela empresa porque a política de apoio às empresas automobilísticas
pelo Grupo Executivo das Indústrias Automobilísticas para
a isenção de impostos para a importação de peças excluiu
os automóveis de dois lugares. Assim, seu custo inviabilizou
seu sucesso no mercado automobilístico nacional, já que as
peças de automóveis de quatro lugares tinham isenção de
imposto e taxa de câmbio diferenciada para a importação de
peças.
Na década de 1960, a Romi tornou-se uma das principais empresas produtoras de torno do mundo, ficando
atrás apenas de uma empresa estatal da União Soviética. A
empresa, no final da década de 1960, exportava tornos para
diversos países, inclusive da Europa, Japão e Estados Unidos. A empresa vendia tornos com tecnologia local até para
uma firma de Cincinatti, região onde se concentravam as
três maiores empresas produtoras de torno dos Estados Unidos, no final dos anos 1960.
Na década de 1940, a Dedini diversificou e verticalizou
sua linha de produtos diante do crescimento do parque
açucareiro e da necessidade de aumento do tamanho dos
conjuntos de moendas utilizados pelas usinas. Outro motivo
para a diversificação foi a política do Instituto do Açúcar de
Álcool para incrementar a produção de álcool. Na década
de 1930, cresceu o número de destilarias para a produção de
álcool. Em 1933, havia no país apenas uma destilaria de álcool,
aumentando para 44 unidades em 1941. Com a diversificação
do setor alcooleiro, surgiu outra oportunidade no mercado
de máquinas voltadas para o setor canavieiro: a produção de
máquinas e equipamentos para destilarias. Assim, com tal
conjuntura favorável, a família Dedini, em sociedade com
Waldomiro Perissinotto e Lázaro Pinto Sampaio, fundou a
Construtora de Destilarias Dedini, ou Codistil, em 1943. O objeto social da Codistil era a fabricação e o comércio de máquinas, alambiques, aparelhos, peças, acessórios, instalações
do ramo e montagem de destilarias para aguardente e álcool.
No início, a empresa produziu apenas alambiques e caldeiras de pequena capacidade, além de reformar e consertar os
equipamentos existentes. Em 1945, a empresa já estava produzindo equipamentos para destilarias completas. Em 1953,
a Codistil havia fabricado 140 destilarias para aguardente
e 30 para álcool.
No final dos anos 1940 e início dos anos 1950, a Dedini
aprofundou o processo de diversificação e verticalização
com a associação da família à Metalúrgica de Acessórios
para Usinas S.A. – Mausa –, da qual Mário Dedini conseguiria total controle. A Mausa produzia equipamentos para
usinas não fabricados pela Dedini e pela Codistil e que exigiam maior conhecimento técnico para sua elaboração. A
empresa fabricava produtos cuja tecnologia ainda não era
de domínio público, como filtros de caldos, filtros rotativos, centrífugas, decantadores, redutores de velocidade, bombas,
mesas alimentares de cana, pontes rolantes e outros.
Em 1947, a Dedini tinha capacidade de fabricar usinas
completas para a produção de açúcar, indicando alto grau
de diversificação e verticalização de seu sistema produtivo.
Em 1954, as moendas produzidas pela empresa aumentaram
de dimensão. Assim, logo após o final da Segunda Guerra
Mundial, a Dedini tinha capacidade de produzir todos os
equipamentos necessários dentro das usinas nacionais. Já
em 1945, a empresa deixou de ser firma individual e passou
a denominar M. Dedini & Cia. Em 1950, Dedini é transformada em sociedade anônima, estando as três empresas do
grupo (Dedini Metalúrgica, Codistil e Mausa) aptas para
atender à demanda de equipamentos do complexo canavieiro brasileiro.
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